24 Horas de Amor

19:46 Unknown 0 Comments


 Estava no ônibus de volta pra casa. Voltando de um dia de verão. Apenas um feriado que resolvi fazer algo diferente e com uma pequena poupança guardada no porquinho em casa, resolvi viajar, não pra muito longe, uma cidade próxima para curtir um dia em novos ares.
Saí as 5 da manhã de casa e peguei o ônibus no horário mais próximo. ás 8 cheguei. Não conhecia a cidade mas vi, pouco distante da rodoviária vazia o mar e o sol cintilando na água azul. Fui direto para a praia e larguei a mochila na areia, com os pés descalços fui em direção ao mar e dei um mergulho, feliz e despreocupada como qualquer criança de férias, na piscina. Então uma onda forte me derrubou. No susto levantei e vi você saindo da prancha.
Um mergulho no susto levou a uma  sentada em uma mesa de madeira dentre tantas da areia e uma água de coco gelada acompanhada de um bom papo descontraído sobre nossas vidas e situações engraçadas de ambos, histórias de um surfista sempre em busca de algo novo e de uma universitária com a vida involuntariamente traçada. Piadas sem graça, fatos de nossas cidades...tudo isso nos gerou muito espanto, sabedoria e risadas que se repetirão por toda a vida quando forem lembradas. A final, como esquecer da senhora que dançou com o poste no ano passado no são joão dessa sua cidade por além das doses de cachaça, não ter um par? Aposto que sempre lembrará do homem que vi no transito em minha cidade que colocou a placa do carro escrita com tinta preta por que a mesma já estava velha.
Depois que o sol e o mar já haviam perdido a graça, nos despedimos e fui a casa da minha tia, sem nem lembrar que havíamos trocado em algum momento, telefone.
Depois de um banho, sentindo-me leve, sentada a mesa de almoço, recebo uma mensagem de um número desconhecido perguntando o que eu fazia. Que frio gostoso na barriga. Ah...Esse frio na barriga. Que saudade dele.
" Está sorrindo pra o vento minha filha ?" Disse minha avó. Que saudade desse sorriso á toa. Não, eu não sorria pra o vento, sorria pra mim, sorria pra ele, para aquele que nem sei o nome.
Ao terminar o almoço, fui buscar algo que nem lembro o que, na casa de uma amiga de minha tia.No meio do caminho te vejo de skate. Meu coração acelerou? Você me acompanha até em casa, espera eu deixar as coisas e me chama pra aprender a andar de skate com você. Até tento enrolar, me fazer de difícil, mas você me convence...mas é claro que eu acabaria indo.
Quedas que geraram risadas, arranhões que geraram carinhos e beijos bobos no local com aquela velha frase dita as crianças pra pararem de chorar : "Já passou, foi só um susto" e que me fez me sentir boba mas ao mesmo tempo tão leve, tão eu.
Um sorvete na lanchonete dois quarteirões depois rendeu muita pirraça e brincadeira e foi finalizada com um beijo com gosto de umbu. Você me levou a praça e segurou minha mão mostrando os locais, que saudade desse sentimento gostoso de esquecer do relógio, da leveza do ar... Subimos em árvores pra pegar acerola e ainda voltei na carona de sua bicicleta quase me derrubando até em casa. Ainda restou tempo pra ficarmos abraçados, com beijinhos e carinhos. Nos poupamos de palavras fofas e falsas pra fazer do momento algo maior do que era. O tamanho dele era ideal.  Falei do seu nariz grande, da sua covinha quando sorria e da sua marca na barriga que parecia respingo de tinta. Você disse do meu cabelo, da beleza do meu rosto suave e do sinal que tenho abaixo do olho esquerdo quase imperceptível. E em meio a beijos e chamegos de uma tentativa adolescente de romance, tenho que me lembrar do horário e voltar pra casa.
Na tentativa de prolongar o que já tinha um fim, me pergunta quando vou embora. Respondo que irei pela manhã ás 5 e você querendo um adeus promete ir á rodoviária se despedir.
Volto pra casa tentando curtir a família, mas entre mensagens relembro cada detalhe do dia que acabei de curtir.
Acordo com o despertador e mando mensagem avisando que estou indo. Chego á rodoviária e o ônibus já vai partir. Estou a caminho de casa e vejo uma mensagem sua  que acordou tarde e se desculpa por não ter ido se despedir. Já sabia que não teria um adeus, esse já tinha sido dado.
Mas sabe, eu sempre lembrarei do meu susto, do nosso coco, da senhora com o poste, das risadas únicas, do beijo de novela, dos arranhões...Eu odeio umbu mas o beijo até me fez gostar um pouco do gosto. Nunca tinha provado acerola...Mas o aconchego dos seus braços foi o melhor colo de uma criança após um dia de brincadeiras exaustivas.
Não nos veremos mais eu sei, quem sabe um dia por ai, as conversas até tentarão acontecer, mas se tudo isso acabar até chegar em casa, ao menos saberei que um dia ali, naquela cidade escondida, por 24 horas um amor eu vivi.

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